Os jogos e brincadeiras estão inseridos em nossas vidas desde que
nascemos. Num primeiro momento os encontramos dentro do ambiente informal, ou
seja, fora da escola, com enfoque no contexto familiar. Nesse tipo de ambiente,
a criança começa a jogar e brincar de maneira arbitrária, não estimulando
firmemente as habilidades operatórias em potencial. É no ambiente formal da
escola, de socialização secundária na vida da criança, que começa a ser
possível estimular, criteriosamente, as capacidades em desenvolvimento. Cada idade está em seu auge de desenvolvimento de alguma(s) das
inteligências múltiplas (Howard Gardner), portanto, para alcançar o
desenvolvimento e a aprendizagem, os jogos devem ser aplicados pelo docente a
partir de objetivos concretos. Desta forma, não somente importa qual jogo será
aplicado, mas também como ele será aplicado. Como exemplo, temos a amarelinha
com seu significado de incentivar a criança a ultrapassar obstáculos. Os jogos
e brincadeiras com objetivos bem delineados permitem que a criança perceba e
associe aos poucos a consequência de cada jogada feita, obtendo a aprendizagem.
Brincar “é divertir-se e entreter-se infinitamente em jogos de criança”
Lúdico - “que tem caráter de jogos, de aprender brinquedo e divertimento; é uma
necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das
atividades essenciais da dinâmica humana” (FERREIRO, 1988, p.139 apud Cláudia
Flôr de Souza). O lúdico possibilita que a criança imagine-se na vida adulta, imitando
papeis sociais com os quais se depara durante a sua rotina. Por exemplo: em uma
consulta ao pediatra a criança presta atenção em todas as ações do médico (a),
chegando em casa ela as reproduz durante uma brincadeira com seus bonecos (as).
Esse faz de conta viabiliza a imaginação, a subordinação às regras necessárias
para o convívio social, a obtenção de uma aprendizagem significativa por meio
dos símbolos construídos pela própria criança enquanto brinca; aprimora o
conhecimento, as inteligências, a criatividade e o controle das emoções,
servindo como uma espécie de “curso preparatório” para a vida adulta.
Para assegurar a autenticidade deste artigo, foram convidadas as vozes
contundentes de três teóricos fundamentais na trajetória pedagógica; são eles:
Piaget, Vygotsky e Wallon.
A máxima que permeia as teorias de Vygotsky é a interação social, a
partir dela observa-se o ambiente e as pessoas. Ambos exercem influência
constante sobre a construção da identidade do indivíduo que, por sua vez,
internaliza tudo o que é absorvido em sua descoberta coletiva, se tornando
capaz de fundar sua própria personalidade e repertório cultural.
“Aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações,
habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o
meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores
inatos (a capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e
dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do
ambiente (a maturação sexual, por exemplo). Em Vygotsky, justamente por sua
ênfase nos processos sócio-históricos, a idéia de aprendizado inclui a
interdependência dos indivíduos envolvidos no processo. (...) o conceito em
Vygotsky tem um significado mais abrangente, sempre envolvendo interação
social.”
(OLIVEIRA, 1995, p. 57).
Em relação aos brinquedos, Vygotsky se atém ao processo imaginário da
criança, explicando que eles fabricam uma certa independência entre o que a
criança observa em seu mundo concreto e o que ela quer enxergar. O mundo dos
objetos concretos perde espaço para as interpretações simbólicas. Por exemplo:
brincar de fazer comida com pedaços de papel dentro da panela de plástico não
significa que a criança crê que aquilo seja comida, mas que ela se imagine
capaz de fazer comida de verdade. O brinquedo mostra pela primeira vez que ela pode
fazer comida, assim como os pais. Ela sabe que é papel, mas ela quer que seja
comida.
“A criança vê um objeto, mas age
de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição
em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê” (VYGOTSKY,
1998, p. 127).
Para Vygotsky (1998), no brinquedo os esforços e os caminhos mais
difíceis estão implícitos e uma vez que a criança não os percebe, ela sente
prazer em brincar e, naturalmente, aprende que não é possível ganhar sempre,
nem repetir sempre os mesmos caminhos para se alcançar um objetivo. Os jogos e
as brincadeiras ensinam a criança a lidar com as frustrações e a respeitar
regras que mais tarde se tornarão regras sociais de convívio.
Wallon (2007 apud MORAES, Ingrid Merkler, 2012) acredita que o fator
mais importante para a formação da personalidade é o social, destacando a
afetividade que, associada diretamente à motricidade, deflagra o
desenvolvimento psicológico. Para o autor, o movimento e suas aquisições são a forma
pela qual a criança estabelece a primeira comunicação, conhecido como diálogo
tônico com o meio, tendo, assim uma grande ferramenta para o desenvolvimento da
linguagem. Por meio da motricidade, a criança consegue se comunicar e descobrir
suas competências. Ademais, a emoção, exerce papel fundamental no
desenvolvimento psicológico, pois possibilita que a criança estabeleça, além da
cognição, laços afetivos com aqueles presentes desde seu nascimento.
Os quatro elementos baseados na teoria de Wallon (afetividade, emoções,
movimento e formação do eu) estão presentes no ato de brincar. A afetividade é
criada a partir da interação com o professor e os colegas, dando destaque ao
papel do professor como ícone afetivo, que instrui sobre como brincar e dá
sustento às brincadeiras, vontades e desejos; as emoções perduram durante toda
a brincadeira (derrotas, vitórias, frustrações, paciência, etc.); o movimento é
feito para concretizar o imaginário, ou seja, transformar pensamento em ação
(mover uma peça, pular um obstáculo, etc.); e, por fim, a formação do eu,
ocasionada pela vivência dos processos anteriores.
Segundo Wallon (2007 apud MORAES, Ingrid Merkler, 2012), o brincar passa
por estágios que vão das brincadeiras puramente funcionais, passando pelas
brincadeiras de ficção, de aquisição e de fabricação.
As brincadeiras funcionais se exprimem mais especificamente através do
movimento, como mexer braços e pernas e emitir sons.; as brincadeiras de ficção envolvem o caráter imaginário que toma o
espaço das situações reais, como fingir que uma sala de aula cheia de carteiras
enfileiradas e alunos é, na verdade, um ônibus cheio de passageiros; as brincadeiras de aquisição trabalham a atenção das crianças sobre
todos os acontecimentos ao redor dela, servem para que a criança absorva
elementos suficientes para criar suas próprias brincadeiras, denominadas
brincadeiras de fabricação.
Encerro referindo as ideias de Piaget sobre a ludicidade no processo de
ensino-aprendizagem. Os jogos, segundo Piaget (apud MACHADO, Beatriz), estão relacionados com
o processo de adaptação. “[...] o ato da inteligência culmina num equilíbrio
entre a assimilação e a acomodação, [...] o jogo é essencialmente assimilação,
ou assimilação predominando sobre a acomodação.” (PIAGET, 1978, p.115 apud MACHADO,
Beatriz).
Para Piaget os jogos estão relacionados ao processo de adaptação porque
essa etapa se refere a todas as habilidades que serão absorvidas para,
posteriormente, serem assimiladas e acomodadas.
O desenvolvimento cognitivo do ser humano passa por etapas em que a
ordem de progresso não varia: cada etapa integra a precedente e lança as bases
da seguinte. Cada indivíduo chega a estes patamares segundo o seu próprio
ritmo, e as características cronológicas que lhe são atribuídas são
aproximativas. O itinerário pessoal seguido e a ordem de chegada às diferentes
etapas do desenvolvimento implicam no retorno a patamares anteriores; por isso
introduzem nuances, em graus diversos,do nível de complexidade possível das
formas lúdicas em causa. Assim, enquanto o adolescente pode fazer ainda jogos
de acoplagem, o bebê não pode ter acesso, aos seis meses, a um jogo de regras
complexas.(FRIEDMANN, 1992,p.175)
Para obter êxito, os jogos devem sempre respeitar a etapa vivida por
cada criança. Não se pode pular períodos de desenvolvimento, sendo necessário
aplicar as brincadeiras de forma sequencial, seguindo o quadro evolutivo-cognitivo
de cada idade e levando em consideração que algo foi construído antes e algo
será construído depois da etapa atual.
Para entender os tipos de brincadeiras segundo Piaget, observe a tabela
de estágios de desenvolvimento cognitivo:
Piaget (1978 apud BARBOSA, S. L; BOTELHO, H. S., 2008),
identifica três grandes tipos de estruturas mentais que surgem sucessivamente
na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo e a regra. O jogo de
exercício, representa a forma inicial do jogo na criança e caracteriza o
período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo. Manifesta-se na faixa
etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano durante toda a sua
existência, da infância à idade adulta.
De acordo com Piaget (1978 apud BARBOSA, S. L; BOTELHO,
H. S., 2008), o jogo simbólico tem início com o aparecimento da função
simbólica, no final do segundo ano de vida, quando a criança entra na etapa
pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos marcos da função simbólica
é a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como símbolo
e o que ela representa, seu significado.
Para Piaget (1978 apud BARBOSA, S. L; BOTELHO, H. S.,
2008 ), o jogo de regras constitui-se os jogos do ser socializado e se
manifestam quando, por volta dos 4 anos, acontece um declínio nos jogos
simbólicos e a criança começa a se interessar pelas regras.
Como nas brincadeiras funcionais apontadas na teoria de Wallon, os jogos de exercícios
citados por Piaget, representam a fase das brincadeiras puramente expressas por
movimentos do corpo, sem haver complexidade. Esse estágio perdura do 0 aos 2
anos.
Em contrapartida, é no jogo simbólico (na teoria de
Wallon chamado de ‘jogo de aquisição’) que a criança começa a fabricar símbolos
a partir dos objetos concretos. Ela se torna capaz de diferenciar os símbolos
de suas representações reais. Em outras palavras, os jogos simbólicos
caracterizam-se pelo faz-de-conta e acontecem entre 2 e 6 anos de idade.
Finalmente, por meio do jogo de regras a criança começa
a se interessar pelas regras, tendo maior controle sobre suas vontades e
escolhas, facilitando o processo de socialização. Esse estágio tem seu auge dos
7 aos 11 anos, mas começam ainda na fase pré-operatória, geralmente aos 4 anos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862006000200011
http://www.webartigos.com/artigos/jogos-e-brincadeiras-na-educacao-infantil/11853/
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N.
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.
ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas Inteligências.
https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=29awWGSPyFYC&oi=fnd&pg=PA9&dq=wallon+e+os+jogos&ots=XI7_PB7RgD&sig=nzPK56C1wRSEMw_AL3Ns8-1Tl_Q#v=onepage&q=wallon%20e%20os%20jogos&f=false
http://educaoepsicologia.blogspot.com.br/2009/11/classificacao-dos-jogos-segundo-jean_15.html
http://unisal.br/wp-content/uploads/2013/03/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Ingrid-M-Moares.pdf
http://facsaopaulo.edu.br/media/files/58/58_161.pdf