segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

NEUROCIÊNCIA: QUEM APRENDE?

     No campo educacional, os estudos da neurociência têm ganhado cada vez mais espaço por investigar os caminhos utilizados pelo cérebro para alcançar a aprendizagem. A partir desses estudos, sabe-se que é essencial considerar o fator emoção no processo de ensino-aprendizagem, uma vez constatado que o cérebro só aprende quando se emociona.
     Em uma entrevista realizada com Francisco Mora, médico espanhol reconhecido por seus saberes na área da neurociência, ele afirma que a neurociência gera muito mais perguntas do que respostas e que há muitas interpretações equivocadas nesse campo da ciência, interpretações essas chamadas de "neuromitos".
     A partir de seus estudos e de sua experiência, Mora acredita que a educação pode transformar-se a fim de tornar-se mais atrativa e mais efetiva, começando pela redução do tempo das aulas convencionais de 50 minutos que facilmente cansam os alunos, fazendo com que não consigam manter a atenção por muito tempo.

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     Uma das perguntas da entrevista questiona a importância da neurociência para o avanço da educação e o doutor responde que é preciso redesenhar nossos métodos de ensino, sempre levando em consideração práticas que estimulem a atenção e toquem o coração de quem aprende. Dessa forma, é possível despertar e manter o interesse dos alunos.
     Ao falar sobre as certezas da neurociência, Mora cita o momento ideal para a alfabetização, dizendo que a melhor idade para iniciá-la é aos seis anos, uma vez que antes dessa idade as ligações neurais ainda não estão prontas para receber tais informações, causando enorme sofrimento àquele que aprende aos quatro anos, por exemplo. Aqui, devo acrescentar que, para obtermos êxito em nossas práxis pedagógicas, é necessário nos desvencilharmos de qualquer método de ensino obscuro, que obrigue, que repreenda e que sacrifique o aluno. A educação deve ser, em primeiro lugar, prazerosa.
     Quando questionado sobre qual a principal mudança a ser feita no sistema atual de ensino, Mora segue firme falando sobre a afetividade. Ao destacar a curiosidade como fator substancial para a aprendizagem, o doutor nos deixa claro que é essencial mostrar o diferente, cativar o aluno, fazer com que ele se lembre de determinada aula, tocar-lhe a alma, o coração, fazê-lo sentir; aprender a aprender para nunca mais esquecer.
Iniciar a aula com algum elemento provocador, algo que fuja aos esquemas monótonos de ensino é um bom primeiro passo para começar a modificar suas metodologias. Além disso, lembre-se que a recompensa sempre foi muito mais eficaz do que a punição, desde o surgimento dos estudos comportamentais behavioristas.
     Uma das dificuldades ao aplicar a neurociência nas escolas é que esses estudos não funcionam como uma fórmula matemática pronta e acabada, mas como estudos constantes e contínuos. Por não entenderem essa ciência e não estarem preparados, muitos professores desistem de praticá-la, permanecendo desatualizados e detentores de práticas estagnadas.
     Para finalizar, Francisco Mora nos revela um dos neuromitos: não é certo que só utilizamos 10% do cérebro para realizar nossas atividades. Ele nos explica que não há como quantificar a utilização do cérebro, já que para cada novo problema enfrentado, utilizamos novos mecanismos de resolução, junto com os mecanismos já existentes. A expansão das nossas inteligências é um processo lento e contínuo, não há receita mágica para fazê-lo mais depressa.
    Francisco Mora é autor do livro "Neuroeducación. Solo se puede aprender aquello que se ama". 

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