quarta-feira, 28 de setembro de 2016

BULLYING E CYBERBULLYING


     “Vivemos em uma cultura em que a violência é valorizada e encorajada, especialmente quando vemos tantos casos de abuso de poder e de atos criminosos que permanecem impunes, em todas as camadas sociais.” (MALDONADO, Maria Tereza.  2011. p.7)
       A violência serve como suplemento para a inserção do bullying no contexto social, principalmente nas escolas e com indivíduos da mesma idade. Para ser considerado bullying, as ações violentas de cunho verbal ou físico (exclusão, ameaças, roubo de pertences, agressões físicas, xingamentos) precisam ser frequentes e apresentar caráter de perseguição sobre um mesmo indivíduo. Nos vemos cada vez mais aprisionados a modelos de conduta, padrões sociais exigentes que não nos permite ser diferentes. Aspectos como cor da pele, opção sexual e religião que fogem aos padrões ou até mesmo deficientes e pessoas que se destacam intelectual ou esteticamente são alvos de chacota em pleno século XXI, afirmando as pilastras do bullying: preconceito e relações de poder, onde o mais fraco sofre os ataques.
         A começar pelas vítimas de bullying, são crianças ou adolescentes tímidos, inseguros e que não têm facilidade para firmar amizades. Por outro lado, podem ser interpretados como ameaça por serem bonitos demais ou possuírem objetos que denotam nível socioeconômico elevado, nesse caso também sofrem os ataques impulsionados pela inveja ou medo de perder o trono da popularidade. De um modo geral, como já foi dito, minorias e indivíduos que não se encaixam aos padrões são mais propícios às situações de bullying.
“O que fazemos com o que fazem conosco? Uma mesma cena de agressão repercute de modos diferentes nas pessoas atacadas: uma reage com firmeza, inibindo a continuidade do ataque; outra dá o troco com a mesma moeda (“eu xingo os meninos também!”); há a que se encolhe, sofrida e intimidada; e outra, simplesmente, ignora o ataque e segue em frente” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.21).
Cada vítima age de uma forma, mas é importante estar atento a gestos de total submissão como olhar direcionado ao chão, postura encurvada e braços cruzados, que mostram vulnerabilidade e incapacidade de dar a volta por cima.
“Dar o troco com a mesma moeda” também não é a melhor forma de agir, pois pode estimular os ataques de forma
“amigável”, passando uma mensagem ao agressor de que aquilo não incomoda; ignorar também não garante a suspensão dos ataques. A melhor forma é reagir com firmeza, deixando claro que aquilo não é divertido e que os agressores não sairão impunes. Entretanto, nem sempre essa postura resolve o problema. Para compreender a magnitude desse fenômeno,
é importante que conheçamos o “modus operandi” dos agressores. Esses, por sua vez, estão sempre buscando poder e controle sobre os demais, são manipuladores  e não admitem perder a popularidade. Em alguns casos agressores são vítimas em casa, seja pelo tratamento recebido por irmãos ou pelos próprios pais; ou podem já ter sofrido bullying anteriormente, escolhendo, atualmente, alvos mais frágeis para aplicarem sua vingança.
      Esse comportamento pode também ser interpretado como insegurança, característica presente nos indivíduos escolhidos como vítimas, mas a diferença é que os agressores usam uma “máscara”, convertendo sua fraqueza em ataques aos mais frágeis, fato que não anula sua insegurança ou mesmo dificuldade em obter relação de empatia com os colegas. O comportamento agressivo também revela dificuldade em estabelecer vínculos saudáveis com os outros, nesses casos o agressor busca espectadores que alimentam seu espetáculo depreciativo. Há aqueles que só conseguem exercer a força do braço, pois não desenvolveram  a boa argumentação; os que colocam a culpa na vítima e quando são punidos se sentem injustiçados; os que nunca admitem que estão errados e não se importam com punições, afirmando que a vítima tem culpa por ser gorda, ter orelhas grandes, dentes tortos, etc.(esses têm maior tendência a desenvolver condutas antissociais na vida adulta); há os que são mimados e capazes de qualquer coisa para conseguirem o que querem, não habilidosos para se colocar no lugar do próximo e perceber a consequência das ofensas causadas e também os que pedem desculpas e depois repetem todos os erros.
       Em todos os episódios de bullying estão presentes os espectadores que se dividem em três tipos de plateia: silenciosa, participativa e protetora. Na plateia silenciosa, os espectadores das agressões nada fazem pois temem serem escolhidos como vítimas caso tentem ajudar, têm aqueles que se sentem indiferentes aos sofrimentos alheios e também os que se recusam a perceber a realidade. É como fazemos todos os dias sem percebermos, como descrito neste fragmento: “Quantas vezes passamos pelas ruas sem ver as crianças abandonadas ou os mendigos deitados na calçada? São seres que se tornam invisíveis aos nossos olhos, os quais não querem se incomodar com a miséria alheia, couraça de insensibilidade que nos poupa do sofrimento de constatar a injustiça da desigualdade”. (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p. 32).

Imagem: www.fatosdesconhecidos.com.br

      A plateia participativa, no que lhe diz respeito, aumenta o poder de atuação dos agressores, contribuindo com risadinhas, mensagens difamatórias e olhares comprometedores que intimidam ainda mais a vítima.
“Os componentes da plateia participativa são pessoas que não têm coragem suficiente para tomar a iniciativa de agredir, mas aprovam, admiram e aderem de bom grado às ações do agressor. Mesmo quando ficam de longe, rindo ou lançando olhares provocadores, estão participando e são cúmplices das agressões” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.33).
       Por último e não menos importante, há a plateia protetora que, como diz o nome, se sensibiliza e se aproxima das vítimas para protegê-las, dificultando a reincidência dos ataques. Pode ser pela simples presença ao lado da vítima ou desvalorizando os desaforos proferidos pelo ofensor. “É preciso estimular as intervenções da plateia protetora para que se torne a “maioria que cuida” e que contribui ativamente para criar um ambiente em que prevaleça o respeito e a consideração pelos outros” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p. 34-35). Na plateia protetora prevalece a compaixão, a solidariedade e a humanidade deixadas de lado pelos praticantes de bullying. A partir destes três ‘princípios ativos’ é possível combater a extensão da violência encontrada em nossa sociedade e transferida às escolas: O BULLYING e o CYBERBULLYING.
      O Cyberbullying é o bullying aliado à tecnologia de uso alienado. Não menos nocivo que o primeiro, o cyberbullying permite que os agressores ataquem às escondidas, complicando a identificação e punição. Nesta modalidade, indivíduos com boa conduta e boas relações sociais podem desvirtuar-se no ambiente virtual, criando perfis falsos em redes sociais, divulgando fotos e informações da vítima e potencializando a humilhação sofrida por ela.




     É essencial a parceira da família juntamente com a escola para orientar crianças e adolescentes de que essa pode ser uma prática perigosa, revelando os meios possíveis para desmascarar o agressor escondido através de um computador ou celular, como o rastreamento do endereço IP da máquina utilizada, seja na lan house ou em casa e as punições que podem ser aplicadas a ele. Esta é uma forma de inibir as ações inconsequentes dos jovens deturpados.
     Para as vítimas, dentre as consequências dos dois fenômenos estudados até aqui, pode-se observar queda do rendimento escolar; olhar intimidado voltado, na maioria das vezes, para baixo, diminuição da fala e das interações no ambiente escolar, diminuição do apetite, queda da autoestima e isolamento. Em longo prazo podem causar depressão severa para aqueles que já possuem uma visão de mundo melancólica; tentativas de suicídio, queda significativa da autoestima e autoconfiança, dificuldade para se relacionar, visão distorcida da realidade, onde se enxerga todos como uma ameaça; e tem também quem consegue esquecer os traumas e nutrir o otimismo. “As experiências bem-sucedidas e o reconhecimento do nosso valor ajudam a construir uma boa autoestima; fracassos sucessivos, olhares críticos e impiedosos, a perseguição implacável do bullying com mensagens que humilham, ridicularizam, depreciam e com ações que excluem do convívio social podem deixar marcas profundas em algumas pessoas, especialmente quando estão em períodos de mudanças marcantes, como ocorre na transição entre a infância e a adolescência” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.37).
      Para os autores frequentes do bullying as consequências são outras: alguns mantém os padrões de discriminação e intolerância à diversidade, tornando-se adultos de conduta antissocial, desrespeitando a lei e sendo vistos como pessoas de difícil convívio em diferentes cenários sociais. Outros passam a aceitar as diferenças e respeitá-las, aprendendo a diferença entre brincadeira e ofensa, passam também a canalizar sua capacidade de liderança de formas mais adequadas e reestabelecem sua autoestima e segurança, não precisando “puxar o tapete” alheio para alcançarem objetivos desejados.
Sendo autor ou vítima do Bullying/Cyberbullying, sempre temos a opção de conduzir nossas forças para a ala positiva, mas há quem prefira dar voz ao lado obscuro do ser humano e por isso não conseguem ultrapassar obstáculos e situações vividas na infância ou adolescência.
    Como forma de se antecipar às práticas do bullying, foram criados os programas antibullying: “Os estudos iniciais sobre o bullying foram realizados no século passado, na década de 1970, por Dan Olweus, na Universidade de Bergen, na Noruega, e resultaram em uma campanha nacional antibullying nas escolas norueguesas, em 1983, após três casos de suicídio em decorrência do sofrimento provocado por essa prática” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.41).
    Os episódios de bullying ocorrem em todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares e afetam diferentes faixas etárias. Para combatê-los é necessário fundar um programa antibullying consistente, inserido integralmente no projeto político pedagógico da escola, afim de “cortar o mal pela raiz” em longo prazo e em curto prazo declinar consideravelmente a prática.
     Segundo Maria Tereza Maldonado (2011), para prevenir o bullying é necessário construir um ambiente escolar que transmita segurança aos alunos que, confiantes, serão capazes de estabelecer vínculos cooperativos de amizade, melhorando as habilidades de relacionamento. Palestras sobre o bullying são sim importantes, mas não são suficientes quando o assunto é quebrar modelos agressivos de relacionamentos. É necessário um programa intenso, pois o conteúdo da palestra, caso não seja reforçado, vivenciado e apreendido será rapidamente esquecido. Padrões violentos da sociedade são vistos e reproduzidos por crianças e adolescente no ambiente escolar, esses padrões são observados por muito tempo e é por isso que precisamos de um programa antibullying que também seja duradouro.
      Após momentos severos vividos no período da ditadura militar muitos pais, responsáveis e professores têm medo de agirem com autoritarismo sobre os filhos ou alunos e esse cuidado exacerbado implica na falta de limites empregados às crianças e adolescentes de hoje em dia. Não se pode confundir autoritarismo com regras necessárias para o bom convívio. Nesse contexto, cabem os programas antibullying que envolvem toda a comunidade: familiares, alunos e a equipe escolar, envolvendo cada “membro” desse projeto em uma atmosfera coletiva e harmoniosa a caminho de mudanças positivas.
“Procura-se, portanto, consolidar os valores fundamentais do convívio: respeito, consideração, cooperação, solidariedade, gentileza. O tratamento e a prevenção do bullying passam a ser tarefas de todos.” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.121-122).
Quando ouvidos e envolvidos, os estudantes são ferramentas essenciais para a construção da cultura da paz nas escolas. Com suas habilidades tecnológicas, podem fazer vídeos, fotomontagens e outros materiais que ajudem na conscientização do problema, destronando o cyberbullying. Com a conscientização do maior número de pessoas possível, os agressores vão perdendo gradativamente suas forças para continuarem os ataques, percebendo que estão sozinhos nessa jornada demolidora e que caso resolvam seguir em frente, serão punidos rigorosamente.
“A rede Programa das Escolas Associadas ao Programa da Cultura da Paz da UNESCO (PEA), atuando em diversos países, dissemina os princípios da comunicação não violenta desde a etapa da educação infantil” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.128).
Segundo a autora, essa é a melhor forma de prevenção do bullying e seu agravante, o cyberbullying, porque desde cedo as crianças serão condicionadas a participar de relações sociais saudáveis, onde todos os desentendimentos serão solucionados de forma não agressiva, ensinando-as a administrar conflitos de maneira disciplinada.
     Finalmente, pode-se concluir que a luta para destruir paradigmas violentos criados pelo bullying deve contar com a participação não só da escola, mas também da família. A família deve sempre estar atenta aos modelos que podem estar sendo absorvidos em casa pela criança ou adolescente e a escola tem o papel fundamental em alertar os familiares sobre comportamentos divergentes. A comunicação entre esses dois canais deve ser incessante, sempre buscando a compreensão e a colaboração.
     No Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (coordenada por Jacques Delors)  para a UNESCO, podemos destacar um dos quatro pilares da educação: “Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percep­ção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar­-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.”
    Segundo Andrea Ramal (2016) No Brasil, entrou vigor este ano a Lei 13.185/15, que obriga as instituições a combater o bullying a partir de quatro linhas de ação: capacitar docentes para prevenir e resolver o problema, orientar familiares para identificar vítimas e agressores, realizar campanhas educativas e fornecer assistência psicológica e jurídica a vítimas e agressores. Pelo texto da lei, a punição deve ser, sempre que possível trocada por atividades voltadas para a mudança de comportamento”.

Confira no link a seguir alguns casos de bullying que passaram dos limites: http://www.fatosdesconhecidos.com.br/7-casos-em-que-o-bullying-passou-dos-limites-e-acabou-em-tragedia/


Dica de leitura

O livro "A Menina Distraída" da autora Vanessa Bencz conta a história de uma menina vítima de bullying na escola que é salva por uma super heroína. 

Fonte:http://cabanadoleitor.com.br/cabana-entrevista-vanessa-bencz-autora-do-livro-a-menina-distraida/



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MALDONADO, Maria Tereza. Bullying e cyberbullying: O que fazemos com o que fazem conosco?. 1 ed. São Paulo: Moderna, 2011.
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/post/bullying-escolas-trocam-punicoes-por-rap-ioga-e-outras-inovacoes.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário