“Vivemos em uma cultura em que
a violência é valorizada e encorajada, especialmente quando vemos tantos casos
de abuso de poder e de atos criminosos que permanecem impunes, em todas as
camadas sociais.” (MALDONADO, Maria
Tereza. 2011. p.7)
A
violência serve como suplemento para a inserção do bullying no contexto social,
principalmente nas escolas e com indivíduos da mesma idade. Para ser
considerado bullying, as ações violentas de cunho verbal ou físico (exclusão,
ameaças, roubo de pertences, agressões físicas, xingamentos) precisam ser
frequentes e apresentar caráter de perseguição sobre um mesmo indivíduo. Nos
vemos cada vez mais aprisionados a modelos de conduta, padrões sociais
exigentes que não nos permite ser diferentes. Aspectos como cor da pele, opção
sexual e religião que fogem aos padrões ou até mesmo deficientes e pessoas que se destacam intelectual ou esteticamente são alvos de
chacota em pleno século XXI, afirmando as pilastras do bullying:
preconceito e relações de poder, onde o mais fraco sofre os ataques.
A
começar pelas vítimas de bullying, são crianças ou adolescentes tímidos,
inseguros e que não têm facilidade para firmar amizades. Por outro lado, podem
ser interpretados como ameaça por serem bonitos demais ou possuírem objetos que
denotam nível socioeconômico elevado, nesse caso também sofrem os ataques
impulsionados pela inveja ou medo de perder o trono da popularidade. De um modo
geral, como já foi dito, minorias e indivíduos que não se encaixam aos padrões
são mais propícios às situações de bullying.
“O
que fazemos com o que fazem conosco? Uma mesma cena de agressão repercute de
modos diferentes nas pessoas atacadas: uma reage com firmeza, inibindo a
continuidade do ataque; outra dá o troco com a mesma moeda (“eu xingo os
meninos também!”); há a
que se encolhe, sofrida e intimidada; e outra, simplesmente, ignora o ataque e
segue em frente” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.21).
Cada
vítima age de uma forma, mas é importante estar atento a gestos de total
submissão como olhar direcionado ao chão, postura encurvada e braços cruzados,
que mostram vulnerabilidade e incapacidade de dar a volta por cima.
“Dar o troco com a mesma moeda” também não é a melhor forma de agir, pois pode estimular os ataques de forma “amigável”, passando uma mensagem ao agressor de que aquilo não incomoda; ignorar também não garante a suspensão dos ataques. A melhor forma é reagir com firmeza, deixando claro que aquilo não é divertido e que os agressores não sairão impunes. Entretanto, nem sempre essa postura resolve o problema. Para compreender a magnitude desse fenômeno,
é importante que conheçamos o “modus operandi” dos agressores. Esses, por sua vez, estão sempre buscando poder e controle sobre os demais, são manipuladores e não admitem perder a popularidade. Em alguns casos agressores são vítimas em casa, seja pelo tratamento recebido por irmãos ou pelos próprios pais; ou podem já ter sofrido bullying anteriormente, escolhendo, atualmente, alvos mais frágeis para aplicarem sua vingança.
“Dar o troco com a mesma moeda” também não é a melhor forma de agir, pois pode estimular os ataques de forma “amigável”, passando uma mensagem ao agressor de que aquilo não incomoda; ignorar também não garante a suspensão dos ataques. A melhor forma é reagir com firmeza, deixando claro que aquilo não é divertido e que os agressores não sairão impunes. Entretanto, nem sempre essa postura resolve o problema. Para compreender a magnitude desse fenômeno,
é importante que conheçamos o “modus operandi” dos agressores. Esses, por sua vez, estão sempre buscando poder e controle sobre os demais, são manipuladores e não admitem perder a popularidade. Em alguns casos agressores são vítimas em casa, seja pelo tratamento recebido por irmãos ou pelos próprios pais; ou podem já ter sofrido bullying anteriormente, escolhendo, atualmente, alvos mais frágeis para aplicarem sua vingança.
Esse
comportamento pode também ser interpretado como insegurança, característica
presente nos indivíduos escolhidos como vítimas, mas a diferença é que os
agressores usam uma “máscara”, convertendo sua fraqueza em ataques aos mais
frágeis, fato que não anula sua insegurança ou mesmo dificuldade em obter
relação de empatia com os colegas. O comportamento agressivo também revela
dificuldade em estabelecer vínculos saudáveis com os outros, nesses casos o
agressor busca espectadores que alimentam seu espetáculo depreciativo. Há aqueles que só conseguem exercer a força do braço, pois não
desenvolveram a boa argumentação; os que
colocam a culpa na vítima e quando são punidos se sentem injustiçados; os que
nunca admitem que estão errados e não se importam com punições, afirmando que a
vítima tem culpa por ser gorda, ter orelhas grandes, dentes tortos, etc.(esses têm
maior tendência a desenvolver condutas antissociais na vida adulta); há os que
são mimados e capazes de qualquer coisa para conseguirem o que querem, não
habilidosos para se colocar no lugar do próximo e perceber a consequência das
ofensas causadas e também os que pedem desculpas e depois repetem todos os
erros.
Em
todos os episódios de bullying estão presentes os espectadores que se dividem
em três tipos de plateia: silenciosa, participativa e protetora. Na plateia
silenciosa, os espectadores das agressões nada fazem pois temem serem
escolhidos como vítimas caso tentem ajudar, têm aqueles que se sentem
indiferentes aos sofrimentos alheios e também os que se recusam a perceber a
realidade. É como fazemos todos os dias sem percebermos, como descrito neste
fragmento: “Quantas vezes passamos pelas ruas sem ver as crianças abandonadas ou os mendigos deitados na calçada? São seres que se tornam invisíveis aos nossos olhos, os quais não querem se incomodar com a miséria alheia, couraça de insensibilidade que nos poupa do sofrimento de constatar a injustiça da desigualdade”. (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p. 32).
Imagem: www.fatosdesconhecidos.com.br |
A
plateia participativa, no que lhe diz respeito, aumenta o poder de atuação dos
agressores, contribuindo com risadinhas, mensagens difamatórias e olhares
comprometedores que intimidam ainda mais a vítima.
“Os
componentes da plateia participativa são pessoas que não têm coragem suficiente
para tomar a iniciativa de agredir, mas aprovam, admiram e aderem de bom grado
às ações do agressor. Mesmo quando ficam de longe, rindo ou lançando olhares
provocadores, estão participando e são cúmplices das agressões” (MALDONADO,
Maria Tereza, 2011, p.33).
Por
último e não menos importante, há a plateia protetora que, como diz o nome, se
sensibiliza e se aproxima das vítimas para protegê-las, dificultando a reincidência dos ataques. Pode
ser pela simples presença ao lado da vítima ou desvalorizando os desaforos
proferidos pelo ofensor. “É
preciso estimular as intervenções da plateia protetora para que se torne a
“maioria que cuida” e que contribui ativamente para criar um ambiente em que
prevaleça o respeito e a consideração pelos outros” (MALDONADO, Maria Tereza,
2011, p. 34-35). Na
plateia protetora prevalece a compaixão, a solidariedade e a humanidade
deixadas de lado pelos praticantes de bullying. A partir destes três
‘princípios ativos’ é possível combater a extensão da violência encontrada em
nossa sociedade e transferida às escolas: O BULLYING e o CYBERBULLYING.
O
Cyberbullying é o bullying aliado à tecnologia de uso alienado. Não menos
nocivo que o primeiro, o cyberbullying permite que os agressores ataquem às
escondidas, complicando a identificação e punição. Nesta
modalidade, indivíduos com boa conduta e boas relações sociais podem
desvirtuar-se no ambiente virtual, criando perfis falsos em redes sociais,
divulgando fotos e informações da vítima e potencializando a humilhação sofrida
por ela.
É
essencial a parceira da família juntamente com a escola para orientar crianças
e adolescentes de que essa pode ser uma prática perigosa, revelando os meios
possíveis para desmascarar o agressor escondido através de um computador ou
celular, como o rastreamento do endereço IP da máquina utilizada, seja na lan house ou em
casa e as punições que podem ser aplicadas a ele. Esta é uma forma de inibir as
ações inconsequentes dos jovens deturpados.
Para as vítimas, dentre as
consequências dos dois fenômenos estudados até aqui, pode-se observar queda do
rendimento escolar; olhar intimidado voltado, na maioria das vezes, para baixo, diminuição da fala e das interações no ambiente
escolar, diminuição do apetite, queda da autoestima e isolamento. Em longo prazo podem causar
depressão severa para aqueles que já possuem uma visão de mundo melancólica;
tentativas de suicídio, queda significativa da
autoestima e autoconfiança, dificuldade para se
relacionar, visão distorcida da realidade, onde
se enxerga todos como uma ameaça; e tem também quem consegue esquecer os
traumas e nutrir o otimismo. “As experiências bem-sucedidas
e o reconhecimento do nosso valor ajudam a construir uma boa autoestima;
fracassos sucessivos, olhares críticos e impiedosos, a perseguição implacável
do bullying com mensagens que humilham, ridicularizam, depreciam e com ações
que excluem do convívio social podem deixar marcas profundas em algumas
pessoas, especialmente quando estão em períodos de mudanças marcantes, como
ocorre na transição entre a infância e a adolescência” (MALDONADO, Maria
Tereza, 2011, p.37).
Para os autores frequentes do
bullying as consequências são outras: alguns mantém os padrões de discriminação
e intolerância à diversidade, tornando-se adultos de conduta antissocial,
desrespeitando a lei e sendo vistos como pessoas de difícil convívio em
diferentes cenários sociais. Outros passam a aceitar as diferenças e
respeitá-las, aprendendo a diferença entre brincadeira e ofensa, passam também
a canalizar sua capacidade de liderança de formas mais adequadas e
reestabelecem sua autoestima e segurança, não precisando “puxar o tapete”
alheio para alcançarem objetivos desejados.
Sendo autor ou vítima do
Bullying/Cyberbullying, sempre temos a opção de conduzir nossas forças para a
ala positiva, mas há quem prefira dar voz ao lado obscuro do ser humano e por isso não conseguem ultrapassar
obstáculos e situações vividas na infância ou adolescência.
Como forma de se antecipar às
práticas do bullying, foram criados os programas antibullying: “Os estudos iniciais sobre o
bullying foram realizados no século passado, na década de 1970, por Dan Olweus,
na Universidade de Bergen, na Noruega, e resultaram em uma campanha nacional
antibullying nas escolas norueguesas, em 1983, após três casos de suicídio em
decorrência do sofrimento provocado por essa prática” (MALDONADO, Maria Tereza,
2011, p.41).
Os episódios de bullying
ocorrem em todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares e afetam
diferentes faixas etárias. Para combatê-los é
necessário fundar um programa antibullying consistente, inserido integralmente
no projeto político pedagógico da escola, afim de “cortar o mal pela raiz” em longo prazo e em curto
prazo declinar consideravelmente a prática.
Segundo Maria Tereza Maldonado
(2011), para prevenir o bullying é necessário construir um ambiente escolar que
transmita segurança aos alunos que, confiantes, serão capazes de estabelecer
vínculos cooperativos de amizade, melhorando as habilidades de relacionamento. Palestras sobre o bullying são
sim importantes, mas não são suficientes quando o assunto é quebrar modelos
agressivos de relacionamentos. É necessário um programa intenso, pois o
conteúdo da palestra, caso não seja reforçado, vivenciado e apreendido será
rapidamente esquecido. Padrões violentos da sociedade são vistos e reproduzidos
por crianças e adolescente no ambiente escolar, esses padrões são observados
por muito tempo e é por isso que precisamos de um programa antibullying que
também seja duradouro.
Após momentos severos vividos
no período da ditadura militar muitos pais, responsáveis e professores têm medo
de agirem com autoritarismo sobre os filhos ou alunos e esse cuidado exacerbado
implica na falta de limites empregados às crianças e adolescentes de hoje em
dia. Não se pode confundir autoritarismo com regras necessárias para o bom
convívio. Nesse contexto, cabem os programas antibullying que envolvem toda a
comunidade: familiares, alunos e a equipe escolar, envolvendo cada “membro”
desse projeto em uma atmosfera coletiva e harmoniosa a caminho de mudanças
positivas.
“Procura-se, portanto,
consolidar os valores fundamentais do convívio: respeito, consideração,
cooperação, solidariedade, gentileza. O tratamento e a prevenção do bullying
passam a ser tarefas de todos.” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.121-122).
Quando ouvidos e envolvidos,
os estudantes são ferramentas essenciais para a construção da cultura da paz
nas escolas. Com suas habilidades tecnológicas, podem fazer vídeos,
fotomontagens e outros materiais que ajudem na conscientização do problema,
destronando o cyberbullying. Com a conscientização do maior número de pessoas
possível, os agressores vão perdendo gradativamente suas forças para
continuarem os ataques, percebendo que estão sozinhos nessa jornada demolidora
e que caso resolvam seguir em frente, serão punidos rigorosamente.
“A rede Programa das Escolas
Associadas ao Programa da Cultura da Paz da UNESCO (PEA), atuando em diversos
países, dissemina os princípios da comunicação não violenta desde a etapa da
educação infantil” (MALDONADO, Maria Tereza, 2011, p.128).
Segundo a autora, essa é a
melhor forma de prevenção do bullying e seu agravante, o cyberbullying, porque
desde cedo as crianças serão condicionadas a participar de relações sociais
saudáveis, onde todos os desentendimentos serão solucionados de forma não
agressiva, ensinando-as a administrar conflitos de maneira disciplinada.
Finalmente, pode-se concluir que a luta para destruir paradigmas
violentos criados pelo bullying deve contar com a participação não só da
escola, mas também da família. A família deve sempre estar atenta aos modelos
que podem estar sendo absorvidos em casa pela criança ou adolescente e a escola
tem o papel fundamental em alertar os familiares sobre comportamentos
divergentes. A comunicação entre esses dois canais deve ser incessante, sempre
buscando a compreensão e a colaboração.
No Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (coordenada por Jacques
Delors) para a UNESCO, podemos destacar
um dos quatro pilares da educação: “Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção
das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar
conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da
paz.”
Segundo Andrea Ramal (2016) “No Brasil, entrou
vigor este ano a Lei 13.185/15, que obriga as instituições a combater o
bullying a partir de quatro linhas de ação: capacitar docentes para prevenir e
resolver o problema, orientar familiares para identificar vítimas e agressores,
realizar campanhas educativas e fornecer assistência psicológica e jurídica a
vítimas e agressores. Pelo texto da lei, a punição deve ser, sempre que possível
trocada por atividades voltadas para a mudança de comportamento”.
Confira no link a seguir alguns casos de bullying que passaram dos
limites: http://www.fatosdesconhecidos.com.br/7-casos-em-que-o-bullying-passou-dos-limites-e-acabou-em-tragedia/
Dica de leitura
O livro "A Menina Distraída" da autora Vanessa Bencz conta a história de uma menina vítima de bullying na escola que é salva por uma super heroína.
Fonte:http://cabanadoleitor.com.br/cabana-entrevista-vanessa-bencz-autora-do-livro-a-menina-distraida/
Dica de leitura
O livro "A Menina Distraída" da autora Vanessa Bencz conta a história de uma menina vítima de bullying na escola que é salva por uma super heroína.
Fonte:http://cabanadoleitor.com.br/cabana-entrevista-vanessa-bencz-autora-do-livro-a-menina-distraida/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MALDONADO, Maria Tereza. Bullying e cyberbullying: O que fazemos com o que fazem
conosco?. 1 ed. São Paulo: Moderna, 2011.
http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/post/bullying-escolas-trocam-punicoes-por-rap-ioga-e-outras-inovacoes.html
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